3 de maio de 2020

Eu já disse que no baile de máscaras, sou a Rainha Ilusão? Pois venho aqui confirmar

(Continua depois porque sim)
Passam-se os anos, já fez 24 da morte dos Mamonas e não é que os velhos hábitos morram devagar- eles simplesmente não mudam mesmo. A barata não anda sempre pelos cantos? Eu o faço também. Ando sempre pelos cantos da felicidade, vivendo por procuração, chorando o que não me cabe, amando pessoas que não existem.
Não existem?
Não existem e eu posso provar. Que espécie de pessoa eu sou, que espécie de sentimentos fantasmas podem existir saindo de uma pessoa quando há afeição por uma nuvem de perfume que existe cada vez menos na memória- e isso quando existe?
Vai continuar depois, porque os sentimentos de quarentena não acabam por aqui. Fodeu.

18 de março de 2020

No baile de máscaras, eu sou a Rainha Ilusão

Talvez o melhor seja continuar assim e na maré baixa, baixíssima, digo a mim mesma enquanto choro baixinho tentando esconder dos ouvidos os soluços crescentes. Talvez seja melhor navegar nesse grande barco seguro de velas já gastas, mas que conhecem bem o mar onde estão. Talvez o amor seja mesmo grande coisa e as paixões, ah, pra que servem, senão para enganar os pensamentos das mulheres dizendo que o mundo vale mesmo a pena? Talvez seja grande coisa, sim. Ou talvez seja apenas aquele par de tênis velhos que não jogamos fora por serem confortáveis e que usamos todos os dias, ainda que queiramos de vez em quando usar aquele de paetês que nos pinica. É mais bonito e dá um glamour, faz subir a autoestima um pouquinho porque aqueles tênis chegam a nos elogiar. E elogiam a pedra vermelha do brinco de flor que estamos usando.
Talvez os sonhos e diálogos doces e sussurros calminhos sejam apenas ferramentas de autossabotagem travestidos de preservação de sanidade. Talvez tudo não tenha passado e não passe ainda de delírio individual, pedido de socorro desse lado emotivo e derretido que insiste em sempre caminhar comigo, mesmo depois de tantos anos de sofrimento. Nunca saberei. 
O que sei- e tenho sentido- é que os agrados hoje não possuem mais o mesmo gosto de outrora; estão ora insossos, ora automáticos. Seria esse o gosto da eternidade?

20 de novembro de 2015

Eu te conheço desde antes de eu gostar da chuva
que caía quase sempre na hora exata
E não surpreendia a nós dois.

Eu te conheço desde os tempos de magreza,
dos tempos de pipoca, de amor platônico,
da inocência misturada à tristeza.

Eu te conheço desde o sol, escaldante,
até a lua errante
que rege as minhas cólicas
e as suas velas não mais acesas.

Eu te conheço desde o vale até o litoral,
do bem confortável até o doloroso mal,
desde os beijos inocentes até os gozos confusos.

Não somos mais os mesmos de outrora
e a roda da vida continua a girar.
Só as estrelas são as mesmas ─
as maiores continuam sendo planetas.

Eu te conheço desde a casa na praia
e os sonhos de liberdade:
eu te conheço desde o tempo que não existe.

7 de junho de 2012

Acabou.
O círculo finalmente está fechado.
O Carnaval quando se vai traz muita tristeza
mesclada com o alívio difícil e feliz
de tudo voltar a andar pra frente.
Mas assusta, também.
E o que dá medo na gente
não é antes o ano vindouro-
é o Carnaval do ano que vem.

22 de setembro de 2011

Auto Nu

Eu te perdoo por querer ter sido egoísta quando na verdade tu nunca quiseste sê-lo. E te perdoo por acreditar piamente nisso de “olhos de ressaca” desde os dezesseis anos, como se já tivesses visto algo parecido durante tua até então breve vida. Por reiterar, com olhos sonhadores, que, sim, alguém tinha os olhos verdes mais misteriosos que já conheceras, tu não merecias o julgamento nem meu nem de ninguém menos gentil. Eu te perdoo pela panela ainda quente sobre a perna mas com a comida já fria, pelas lágrimas vertidas em dias difíceis e especialmente pelo modo como, quase inocentemente, tens teu próprio tempo, ainda que nunca tenhas conseguido de fato deter o poder da tua própria vida, sabendo que as piores amarras são as sutis e invisíveis.

Eu te perdoo principalmente por às vezes teres sonhos leves e doces com uma lembrança não tão doce assim, e por acordares sorrindo desses sonhos, mesmo com um certo perigo de seres descoberta em tua alegria. E te perdoo por amares (erradamente?) com posse, com força, com a emoção de alguém tão radical. Eu te perdoo pelas lingeries, pelos desejos secretos contidos nelas, e pelo sentimento de poder que isso te causa. E perdoo a crença cega em monogamia, mesmo que tu não saibas muito bem o que isso te acarretará na vida. Eu te perdoo, de olhos fechados, também pelos atos covardes cometidos no passado, bem como a vontade lá no fundo (ou seria lá no raso?) da tua alma de trangredir as normas. Eu perdoo também o que mais odeio em ti, e tu sabes bem o que é. Aprende a lidar bem com isso.

Eu te perdoo pela imaturidade. E, acima de tudo, eu te perdoo pelos poemas.

9 de setembro de 2011

Fechava os olhos com força
E dizia "Eu te perdoo, eu te perdoo, eu te perdoo".
E, no meio dos soluços de enjoo
As lágrimas caíam até fazer poça.

Fazia parte do mundo dos desesperados
Sem alternativa, fazia protestos mudos.
Com todo o esforço, era sempre a mesma, contudo;
A mudança se continha em gritos mal abafados.

Veio a compreensão, o olhar, o pranto
Daquele a quem o perdão era concedido.
Virou-se de lado, a face coberta de espanto
E de resquícios de um sentimento ressequido.

Então o espírito lânguido, febril de lamento
Que amargara um gosto vil escarrado
Fez da repulsa acolhimento-
E pleno de orgulho, vontade, desejo iluminado.

19 de março de 2011

Ao som de Jean-Baptiste Maunier

Por que as emoções se fazem presentes

Em momentos como esse

Tão nossos... tão únicos,

É que somos quem somos. Nem reis, nem poetas- seres humanos.

No trem da vida vão-se todos- até quem não quer.

E todos chegamos a um mesmo lugar;

A diferença é a viagem.