16 de outubro de 2009

Ma petite hirondelle...

Foi uma surpresa para mim notar que você havia voltado. É bem verdade que você ainda existia há pouco tempo - cerca de um ano e meio, mais ou menos -, mas eu sinceramente achava que houvesse morrido. Isso me fez pensar que não voltaria, e que eu viveria nessa imparcialidade eternamente. Confesso que essa ideia me perturbava, machucava e fazia pesar minha consciência de forma que eu já não podia suportar.
Bem, nada é eterno e o bom filho à casa torna. E você tornou naquela fria manhã de terça-feira. Qual não foi minha surpresa ao me ver completamente tocada por aquela canção canadense! O resultado foram doces lágrimas mudas e invisíveis, que me tocaram a alma e fizeram-me voltar aos velhos tempos.
O que minha professora fez por nós naquela manhã é inexplicável. Acho que não faz o mínimo sentido agradecê-la por isso, mas é fato que ela me fez voltar a mim. A cada frase cantada pela linda voz do intérprete canadense, meu coração se abria e inchava, de forma que o resultado foi uma mente plena de pensamentos o mais doce e piegas possível.
Não posso colocar em palavras o tamanho e a força do bem que a sua volta me causou - isso seria superar-me de forma inédita. Sendo assim, penso que agora só me resta agradecer. Com um "muito obrigada" mesmo, porque também para isso não tenho palavras. Tudo que posso esperar é que assim continuemos, você fazendo parte de mim, até o fim. Ou pelo menos até quando der...

7 de outubro de 2009

Ao amigo da papelaria

Eu queria era te fazer um desenho.
Um desenho livre como o que me deste.
Um desenho lindo como o que me deste.
Mas cada um faz o que pode.
E se somos amigos, não te importarás
e viverás
o sentimento,
a diversão,
a distância.
Não é maior o entusiasmo que a realidade
nem maior a distância que a amizade.
Então somos amigos? Não sei.
Não somos amigos? Quem pode julgar?
Realmente importante é só a força de vontade.
E a gratuidade vem com o tempo,
não te preocupes.

5 de outubro de 2009

Defenestração

Quero vomitar palavras magoadas,
dar um jeito nessa dor latente.
Tudo gira e gira em torno,
e o sono é ainda persistente.

Uma parte da angústia fora afogada
no mar, com toda aquela espuma apaixonante.
E a não-volta tão desejada
fora abafada pelo bom senso gritante.

Oh, bom senso! Como eu gostaria de não tê-lo!
Como eu queria transcender minha consciência!
Deixar de lado, expulsar de mim todo o resto,
tudo em que há vacilo e inocência!

E assim correr desnuda pelo caminho,
com os olhos cerrados, esbaforida,
para, sem medo, buscar o efêmero
retomando a utópica felicidade pertencida.