“Não deixo marcas no caminho para não saber voltar”- Roberto Carlos
Caminhou até a ponte uma última vez antes de ir embora, e o que lhe aflorou foi um sentimento bom e ao mesmo tempo ruim de nostalgia. Pela primeira vez tomou coragem para olhar para o horizonte, e ficou um pouco surpreso ao ver as flores de sua infância:
- Margaridas!
E isso o fez lembrar-se da mãe, também Margarida, e rapidamente o cheiro das referidas flores, tão conhecido, penetrou em suas narinas e o fez sorrir quase que involuntariamente. Era a lembrança mais viva de seu passado, um passado recente, mas que parecia a muitos anos de distância. Um passado quase morto, não fossem as poucas lembranças felizes que ainda restavam.
Beijou as flores com um carinho pueril e continuou firme em sua caminhada rumo ao futuro. O que sofrera ficara para trás, o que aproveitara de bom também, e agora o que importava era o que viria, não o que passara. Tudo o que era bom não lhe pertencia mais, e ele se sentia completamente suscetível a qualquer infortúnio que lhe pudesse ocorrer. Há muito decidira não levar nada de sua vida anterior à sua partida e, apesar das dificuldades, conseguira cumprir à risca sua decisão. Claro que haviam coisas que mereciam ser levadas; todavia, elas sempre se interligavam com fatos e coisas não memoráveis de um passado frio e hostil, o qual sempre o assombrava nos momentos mais inesperados.
Caminhou, caminhou, cansou-se, caminhou novamente, deicidiu não mais olhar para o que havia atrás de si. “Acabou-se”, pensou ele. “O que tenho para fazer é o agora, nesse instante, nestas circunstâncias. Nem o ontem, nem o amanhã; somente o hoje.”
E assim foi, andando cuidadosamente por seu novo caminho e seu ainda mais novo destino. Desconhecido, determinado e só, unicamente só.