24 de outubro de 2010

Quando a noite já estava densa, naquele horário em que os pensamentos fluem melhor, a menina frágil se transformava em mulher. Era a moça de batom vermelho, ou ainda, em algumas vezes, a moça do salto. Salto?!, diriam alguns. Sim, salto, e você fica linda assim, diria outro, o outro que era único e responsável por toda aquela mudança.
A moça deixava de lado as Barbies de outrora, as lágrimas de insegurança e lá ia ela, sem tropeçar, apenas com um apertozinho no peito, "será que vai dar certo?". Dava, sempre deu. O batom sempre fazia sucesso, o sapato de salto (ainda não tão alto assim; ela começava a se acostumar com a "novidade"), o vestido, a pouca maquiagem nos olhos. "Estou bonita?", ela precisava de segurança. A resposta era sempre positiva. Sorte dela.
E tudo era lindo, e tudo era bom, e todo o sacrifício valia a pena; quando chegava a madrugada, apenas dois sorrisos, um deles tímido, pouco antes do sono dos deuses. Era a recompensa necessária.
Aí via as flores, as estrelas, sentia o perfume da felicidade. Era feliz. Pelo menos por essa noite, sentia-se liberta.