11 de setembro de 2009

"Nós encontraremos nosso direito de ser. Até lá, os lilases florescem toda primavera." - Histórias para aquecer o coração dos adolescentes


Quando cheguei em casa vocês estavam lá, lindas, abertas, imponentes, como que me esperando para vê-las. Quase cheguei tarde: pareceu-me que estavam em seu limite, e que não aguentariam mais que cinco ou seis dias.
Era noite já, e o seu perfume não era mais tão forte quanto eu me lembrava. Fui cumprimentá-las, pedindo desculpas pela minha ausência no último ano. A culpa não foi minha, vocês sabem disso. E tanto o sabem que não fizeram pouco caso de mim. Receberam-me bem, como se recebe o filho pródigo. Tamanha foi minha emoção que cheguei às lágrimas. As coisas mudam, as pessoas não são mais as mesmas, mas a alegria de vê-las e senti-las próximas de mim ainda existe. A sutil diferença é que agora não espero; sou esperada.
E vocês entendem. Fui eu quem as esperou ansiosamente todos os anos. Sou eu quem as recebe com emoção e alegria, todas as vezes em que chegam. Era eu quem lhes sentia o cheiro antes de ir à escola, todas as manhãs, como que lhes dando bom dia. Sou eu quem tem uma de vocês guardada, já seca e inodora. Sou eu quem as liga, a cada ano, a algum momento marcante da minha vida... Como da última vez, como agora. E vocês me agradecem com sua beleza e perfume extraordinários, quase maravilhosos.
A cada ano, a cada idade minha, a cada etapa, suas cores, texturas e o seu inesquecível perfume me parecem mais saborosos, mesmo sabendo que são os mesmos. E apaixono-me cada vez mais. Essa paixão faz com que, mal se termina o mês de agosto, quero-o novamente só para vê-las ali vivas, cheirosas, inabaláveis. Só que desta vez eu as vi em setembro.
Amanhã eu voltarei pra casa e ainda não sei se vocês estarão lá. Talvez sim, ou talvez o tempo já as tenha levado consigo. Se assim for, agora só no próximo ano. Uma outra Julia estará lá, em uma outra situação, com outras perspectivas, mas pronta para recebê-las.

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