Depois de anos sem falar com ele, tomei coragem e fui vê-lo. Como seria o reencontro? Comecei a recapitular tudo o que havíamos vivido em um passado um pouco distante. Mágoas, ressentimentos, rancor, tudo isso estava guardado em ambos os corações, creio eu. Queria acabar com o que já há algum tempo me destruía. Chegando lá, meu coração bateu mais forte: o que dizer e como começar?
- Ben?- Falei, cabeça baixa, olhos envergonhados.
Ele nada disse, apenas me olhou com olhos que eu não reconhecera na hora. Os olhos vivos que tanto elogiei outrora deram lugar a olhos tristes e distantes, fazendo assim com que seu dono me parecesse quase irreconhecível. Aquele não podia ser o Ben que eu fora visitar.
- Você veio fazer o quê aqui? Hein? Veio brigar comigo de novo?
- Ben, eu... Olha só, esquece tudo, tá bem? É por isso que eu vim aqui.
- Esquecer tudo como? Você disse que não queria mais me ver.
- Disse. Eu sei que disse. Mas esquece, por favor, vai. Você não está bem, né?
Ben emagrecera consideravelmente e já não possuía aquela energia que lhe era característica. Tinha os olhos parados, o olhar perdido, e parecia-me que estavam agressivos também. Estava disperso, falava pouco, mexia-se também pouco; tinha o ar de quem não tinha mais esperanças. Compreendi. O que mais podia fazer senão compreender? Ao mesmo tempo, veio-me uma vontade enorme de abraçá-lo e de dizer-lhe que eu estava ali para me redimir. Só que eu tinha medo de sua reação.
- Bem? Eu estou é doido pra ir embora. Mas ainda não entendi: você me perdoou, é isso?
- Perdoei.
- Perdoou mesmo?- Pareceu-me que seus olhos brilharam nesse momento, mas acho que foi só impressão.
- Perdoei.
Ficamos em silêncio por um momento que me pareceu enorme.
- Peraí... Você só me perdoou para não ficar com dor na consciência. É isso? Leu em algum lugar que não perdoar faz mal à saúde, não é?- Ele oferecia resistência. Nada anormal; eu o conhecia muito bem para ficar espantada com isso.
- Ben, para com isso...
- Quando a esmola é demais o santo desconfia! Tem ideia do que você faz comigo?- Ele tentava disfarçar as lágrimas.
E eu não o estava reconhecendo. Ben chorando? E na minha frente? Senti que aquele choro não era por minha causa. Por certo era um desabafo, uma forma de se livrar de tudo que lhe acontecia e fazia-lhe mal. O que aquele lugar estava fazendo com ele? O que lhe faziam aquelas pessoas?
- Vem cá...- Estendi-lhe os braços e ele, ao contrário do que pensei que faria, abraçou-me com ternura.
Tínhamos muito o que conversar e, principalmente, tínhamos que nos perdoar mutuamente. A cada palavra proferida, a dor diminuía, e pelo menos de minha parte o coração ficava mais leve.
O encontro durou algumas horas (percebo agora que foram horas preciosas em minha vida), mas chegara a hora de ir embora.
- Preciso ir.
- Você... Você vai voltar?- Havia um fio de esperança em sua voz. Começamos a nos entender, mas ainda havia muito o que fazer.
- Volto sim. Tchau, Ben.
- Tchau, Virgínia.
Fui embora sem olhar para trás, com os olhos já cheios d'água. É claro que eu voltaria. Faria o que pudesse para melhorar nossas vidas. E eu me dedicaria.
Queria vê-lo vivo.
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